terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Não posso é perguntar assim e não marcar no mapa / o caminho, o longo caminho, o difícil caminho / das mentes que se carregam como um fósforo aceso / nos escuros. O que devo, eu sei, é sempre relembrar-me / que a utopia é necessária, que o nosso ar é o das imagens / em que a necessidade morre e o ser humano dança / entre as nuvens e com a Terra inteira nas mãos. // Porque a vida humana é um perguntar que anda / e viver, por isso mesmo, é ser a boca da luz / em que se gera o sol. Porque essencialmente somos / a fome do fogo em que ele existe / a ondular o mar, a fabricar as chuvas e a iluminar / os olhos do amanhecer que sempre volta / depois que a noite leva os mortos. // Não posso é ver tudo isso sem ver-me também / quebrado entre todas as vidas que se quebram / no dia do homem a compor-se em mil pedaços / que as atuais definições da história não definem. / O que eu não posso é deixar de recolher / em cada detalhe o vulto veloz de uma totalidade / que se apaga e que se acende, súbito clarão / de um farol a iluminar-nos em cada ato que fazemos. / E continuar, portanto, perguntando, perguntando / até que a morte não traga mais pergunta alguma / em sua eternidade oca e sem resposta alguma. MOACYR FÉLIX - de Antologia Poética / Editôra José Olimpio - Rio de Janeiro 1981

Nenhum comentário: