domingo, 21 de junho de 2009

No chão me deito à maneira dos desesperados. / Estou escuro, estou rigorosamente noturno, estou vazio, / esqueço que sou um poeta, que não estou sozinho, / preciso aceitar e compor, minhas medidas partiram-se, / mas preciso, preciso, preciso. // Rastejando, entre cacos, me aproximo. / Não quero, mas preciso tocar pele de homem, / avaliar o frio, ver a cor, ver o silêncio, / conhecer um novo amigo e nele me derramar. // Porque é outro amigo. A explosiva descoberta / ainda me atordoa. Estou cego e vejo. Arranco os olhos } e vejo / Furo as paredes e vejo. A través do mar sangüineo vejo. / Minucioso, implacável, sereno, pulverizado, / é outro amigo. São outros dentes. outro sorriso. / Outra palavra que goteja. / CARLOS DUMMOND DE ANDRADE / Trecho do poema "Mario de Andrade desce aos infernos" / de "A Rosa do Povo" 1943 / 45

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