sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Caravaggio pintou seu alaudista 70 anos depois
da xilogravura de Dürer "Máquina de desenhar",
de 1525, e, é claro, a tecnologia das máquinas de desenho 
tal vez tivesse avançado naquela altura. 
Más já não seriam tais máquinas antiquadas em 1525?
Não estaría Dürer reproduzindo um método antigo
e agora obsoleto de desenhar elipses e curvas 
em prespectiva? Os Embaixadores (embaixo) de Hans
Holbein foi pintado em 1533, somente oito anos depois
da gravura de Dürer. Está repleto de objetos curvos
e esféricos, os quais teriam sido difíceis de fazer a olho,
e no entanto todos eles são maravilhosamente "precisos"
em seu escorço. Holbein poderia ter usado a máquina
de Dürer  para pintar o alaúde na estante de baixo,
mostrado em escorço bem mais simples 
que o de Caravaggio, e de um ângulo análogo 
ao da gravura de Dürer, mas observe os demais objetos 
curvos. O globo celeste na estante de cima, por exemplo,
é perfeito em sua representação. Os motivos de cortina
ao fundo e de toalha são profundamente dignos de crédito
ao acompanharem as dobras. Os riscos de longitude
e latitude no globo terrestre traçam a curvatura da esfera
precisamente, tal como a palavra "AFFRICA". E a partitura
musical é reproduzida com exatidão nas páginas abauladas
do livro aberto. Já isso teria sido quase impossível de pintar
usando a máquina de Dürer. Teria sido possível, contudo, 
usar uma lente para projetar a imagem do livro e dos outros
objetos tridimensionais numa superfície plana e decalcar
os formatos projetados, agora bidimensionais.
A estranha forma em primeiro plano é um crânio distorcido
- Holbein o distendeu. Tal distorção pode ser lograda
inclinando a superfície sobre a qual se projeta uma imagem.
Produzi o detalhe do crânio comprimindo-o de volta a seu formato num computador. Ele parece bem "real". Não será
isso uma pista de que Holbein utilizou ferramentas ópticas?

David Hokney        

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