quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Toda produção artística é circundada por uma certa "aura"
que revela a sua singularidade. Com o advento de produtos
culturais de massa como o cinema, que implicam
na reprodutibilidade da arte, esta "aura" se dilui nas cópias
produzidas e, assim, destrói a qualidade do objeto único
e individual da qual a obra artística podia se revestir.
Quando ocorre este fenômeno, a arte deixa de ser uma criação exclusiva para um grupo restrito, perde seu caráter
sagrado e consequentemente atinge uma repercussão
na sociedade como um todo. Estabelece-se uma nova interação entre o povo e a produção artística; percebe-se
esta mudança especialmente na modalidade cinematográfica
uma vez que ela implica em uma alteração na qualidade
das relações com o público consumidor.
Mas, nesta produção cultural, apesar da sua elaboração
demandar a projeção de toda a expressão vital do seu criador, a "aura" já não está presente.
Existe uma diferença radical entre o que o homem
pode visualizar por meio de seu olhar e o que a câmara
pode captar artificialmente. Desta forma, uma visão que era
consciente se transforma em um ponto de vista inconsciente
gerando um processo semelhante ao da psicoanálise,
que desperta a inconsciência instintiva, enquanto uma arte
como o cinema produz a vivência do inconsciente visual.
A tecnologia de reprodução das produções artísticas
é uma faca de dois gumes; por um lado, ela destroi o legado
cultural ancestral e, por outro, propicia a população
uma nova interação com a obra de arte, e esta produção
poderia se converter em um meio poderoso de sublevação
dos mecanismos sociais.
Walter Benjamin
trecho extraído do livro"A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica" 

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