domingo, 29 de novembro de 2015

CANTO GERAL

venho falar por vossa boca morta.

através da terra juntai todos
os silenciosos labios derramados
e lá do fundo falai comigo por toda esta larga
noite,
como se eu estivesse ancorado convosco,
contai-me tudo, cadeia por cadeia,
elo por elo, passo por passo,
afiai as facas que escondestes,
colocaias no meu peito, em minha mão,
como um rio de raios amarelos,
como um rio de tigres enterrados,
e dexai-me chorar, horas, dias, anos,
idades cegas, séculos estelares.

dai-me a luta, o ferro, os vulcões.

apegai a mim os corpos como ímãs.

afluí as minhas veias e a minha boca.

falai por minhas palavras e por meu sangue.

tradução: Paulo Mendes Campos 

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