terça-feira, 24 de junho de 2014

É evidente, na mediocre produção atual de ilustração,
a falta de crítica, tradição e escolas. Ilustradores são,
hoje, burocratas multiplicadores de ilusão. Sem uma
crítica da ilustração e dos meios, o futuro é o abismo
analfabético. A decadência da linguagem na imprensa
e da midia em geral destaca-se pela inesgotável capacidade
de vulgarizar tudo, porém, neste lamentável espetáculo,
alguns diamantes brilham dignamente.
Porque para a informação, a função está determinada
pelo rumo político e econômico da globalização
que normatiza a comunicação pelo modelo esplendoroso
do catálogo de supermercado. Informações fragmentadas,
rápidas, sem substância fazem os temas e o contexto desaparecer. O formato e a arquitetura da informação
segundo este critério que a alimenta, é transmitir dados
numa sorte de recorte psicótico da realidade, do programa:
indução para o consumo. Para este fim todas as noções
de valor, cultura, liberdade, se transformam em estatíticas 
manipuladas que se configuram e funcionam 
como entidades naturais na mecânica formadora de desejos
direcionados. Como um magma sinistro, a sombra de Pavlov pulsa o espírito das redações.
Ilustradores pressionados pelas editorias, seguem esta 
ou qualquer outra oligofrênica orientação, panfletos 
ou comentário galante dos textos.
É necessário que o ilustrador tenha uma visão própria
dos temas e do campo gráfico para despojar 
da sua condição servil o destino que a ilustração parece ter
nos projetos editoriais e jornalísticos. A página, a matéria,
a ilustração configuram um universo signico que exige
uma permanente crítica e análise. Um ilustrador sem opinião
é um patife espiritual.
Pensar a partir dos meios. 
Tensionar os recursos de operação da computação.
Boas idéias e algum nível de sensibilidade 
fazem desnecesário o domínio de técnicas académicas.
Fertilizar a imaginação, a conciência, as intuições do leitor.
Contruir gramáticas visuais perturbadoras.

Carlos Clémen
texto publicado no jornal "Unidade" 
órgão do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo - 1996

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