sexta-feira, 25 de abril de 2014

Em algum lugar li que um barco é uma extensão do caminho... uma ponte... que a própria terra é um barco
que flutua no espaço, que é sinônimo de fecundidade
e fertilidade.
Os barcos foram suporte para o transporte de bens culturais
muitos séculos antes da chegada da internet... Deixaram
meus avós em Buenos Aires e me trouxeram para Europa
quando cheguei pela primeira vez na década de 80.
Como todo mundo vi flutuar pedacinhos de papel ou
madeira em águas caudalosas ou junto ao meio fio
depois da chuva, e brinquei com qualquer objeto flutuante
na banheira, enquanto minha mãe lutava contra a sujeira
acumulada nas minhas orelhas.
Das ruas de Barcelona saiu a matéria prima 
para a frota de 119 barcos, construídos
com fragmentos de caixotes para embalar alimentos,
desmontados e cortados com equipamento cedido por amigos... custo = 0.
Depois dos primeiros testes na banheira da minha casa 
e algumas fontes de Roma... foram incorporadas as peças
que lhe deram o aspecto de catamarã. Para ganhar maior estabilidade, tudo foi feito com madeira leve, mas o mais importante destes barcos são as suas velas, com imagens desenhadas por artistas de diversas nacionalidades
e residências, que completam um insólito conjunto:
Argentina, Chile, Perú, Cuba, Uruguai, México, USA, Portugal, Espanha, França, Itália, Holanda, Russia, Polónia,
Bélgica, Japão e Coreia. Do Brasil chegaram as ilustrações
de Fabio Zimbres, Allan Sieber, Alex Vieira, e Eloar Guazelli.
Os barcos tem flutuado todos juntos na fonte oval do Parc
de la Ciutadella de Barcelona e na fonte dos Jardins
do Palau Falgueira de Saint Feliu, alem de ficarem expostos
nas salas do Convent de Saint Agustí de Barcelona.
Individualmente, percorrem as águas de mares, lagos, fontes, canais e poças de cidades e povoados que visito
ou visitam amigos que se animam a levar os barquinhos
como companheiros de viagem.
De alguma maneira, estas "culturas móbiles" encontram sempre espaços em que os desenhos são expostos,
despertando curiosidade e sorrisos.
Transeuntes ocasionais de uma duzia de cidades
e navegadores da internet, podem confirmá-lo.

Elenio Pico - Bracelona, Espanha 2014

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