quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quem é esse aí? - perguntava com um sorriso de zomba o editor de conhecido matutino carioca olhando para um desenho de Cassio Loredano. Ao que ele respondia sério e já perdendo a paciência: - "Esse aí, é um desenho sobre a cara de fulano de tal..." - "Você está louco, esse aí não é fulano de tal, nunca na vida!" - retrucava o editor, e acresentava! - "Eu não vou publicar isso aí, de jeito nenhum!" - Fazia bastante tempo que os dois estavam nessa conversa, e o Loredano entendendo que o outro não ia aceitar mesmo o seu trabalho." - "Então publica uma foto!" - arrematou, cabreiro. Dito isto, sentou-se na ponta da mesa do editor, e começou a arrancar, com os dentes, diminutos pedaços do desenho, que mastigava e cuspia sistematicamente no chão. Minutos depois, um picadinho de partículas de papel branco se espalhavam por cima das mesas, das cadeiras, e em volta, no chão. O desenho, uma abstração do líder africano Patrice Lumumba, tinha virado picadinho, para surpressa da redação , e angústia minha. Saímos do jornal e fomos encher a cara de cerveja no bar mais próximo. Um belo trabalho tinha se perdido, mas, em compensação, naquela noite o Cassio interpretou no balcão do bar, acompanhado de uma caixa de fósforos, o repertório quase completo de Noel Rosa... Era o ano de 1976, outros tempos, outras conversas, e outros editores, mas a discussão continua sendo a mesma.

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