quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O doutor Ricardo Loberant entrou fumando com força seguido de
Pacheco Rabelo (Aires d'Ávila), redator chefe do jornal, a segunda
cabeça da casa. Era um homem gordo que se movia pela sala com a dificuldade de um boi que arrasta a relha enterrada da charrua. Havia
na sua marcha um grande esforço de tração e um monóculo petulante
na face imóvel não lhe diminuía o peso da figura. Os dois penetraram na redação pondo na sala uma inexplicável atmosfera de terror. Pelos
longos anos em que estive na redação do O Globo, tive ocasião de
verificar que o respeito, que a submissão dos subalternos ao diretor
de um jornal só deve ter equivalente na administração turca. È de
santo o que ele faz, é de sábio o que ele diz. Ninguém nais sábio e
mais poderoso do que ele na Terra. Todos têm por ele um santo terror
e medo de cair da sua graça, e isto dá-se desde o contínuo até o
redator competente em literatura e cousas internacionais. / Passando
por entre as mesas, tal era a concentração das faces e o ar aterrado daqueles
homens tão arrogantes lá fora, tão sublimes na rua, que eu pensei que se fossem atirar ao chão para serem pisados por aquele novo deus, dando-me ali um espetáculo da Índia mística.

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